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Um país que não sabe governar-se

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 25 de mar.
  • 3 min de leitura


Este escrito espelha um tempo de desgoverno e oportunismo estatal. Os tempos de hoje são diferentes, mas há vícios que permanecem. Oxalá aprendêssemos a ler e votar em programas, não em pessoas. Para isso, seria bom que a campanha se centrasse nos problemas do país, da Europa, da defesa.


O polvo da corrupção que sufoca a sociedade
O polvo da corrupção que sufoca a sociedade


Vivemos num país em que a incompetência gera mais incompetência. E como temos um dom especial para o masoquismo, premiamos os que nos fazem mais mal. Os autarcas corruptos que elegemos, são só um dos tentáculos visíveis de um gigantesco polvo. Todos os outros tentáculos têm um comportamento semelhante, mas passam despercebidos. Para além da Política, estão na função pública, ou equiparada, na justiça, na saúde, nas finanças, na educação, na polícia, nas pessoas com quem trabalhamos, nos amigos que beneficiamos, na família que pomos á frente de tudo e de todos. É uma cultura nacional que se instalou, do tipo Nacional Porreirismo, ou Chico Espertismo, frase feliz que o Presidente Sampaio, atento, identificou tão bem.

Premiamos, desculpamos, damos segunda, terceira, décima quarta oportunidade; não pagamos impostos, fazemos gala do modo como conseguimos enganar o fisco; passamos à frente da fila dos que chegaram primeiro, fazemo-nos valer dos nossos direitos, qualquer tipo de estatuto que tenhamos; para colher dividendos e ser beneficiados, telefonamos ao amigo do amigo do amigo. Entretanto, as pessoas sérias, trabalhadoras, competentes, bem formadas, amigas, isentas, coerentes e sensatas vão ficando para trás, perdendo todas as oportunidades de carreira que possam surgir: deixam de ser um farol de classe dirigente, a imitar nos bons exemplos de conduta e gestão, se chegassem aos lugares de topo.

Este tipo de cultura e fatalismo nacional foi muito bem traduzido, há uns dois mil e tal anos, por um general de Roma — há quem diga que foi Galba, outros que foi César, que por cá passou, na tentativa duramente conseguida de subjugar um povo dos confins da Ibéria, os Lusitanos, que nos conheciam muito bem e desabafaram com a seguinte frase: que raio de povo é aquele que não se governa nem se deixa governar?

A frase pode não ter sido exatamente assim, mas o significado permanece o mesmo. Não se referiu aos povos da península, até porque a península já estava pacificada há muito, referiu-se aos povos que habitavam este pequeno espaço, e se confunde hoje com Portugal. Só depois de alguns séculos de lutas, traições, vinganças mesquinhas, de promessas e mais traições, é que conseguiram, finalmente, tomar conta deste pequeno espaço, infelizmente sem honra para ninguém, nem para os próprios Romanos.

Roma recebia os seus heróis com honrarias e glórias, mas não perdoava a quem recorria á traição para obter a vitória. Foi à custa da traição que Roma subjugou os Lusitanos.

Roma não fazia tratados com os povos, mas quando fazia, cumpria.

Com os Lusitanos, não só não cumpriu com o tratado, como recorreu á traição para os subjugar. Os que pensavam regressar a Roma com honra e glória, foram recebidos friamente. Com o tempo, caíram em desgraça, foram esquecidos.

Roma não perdoava este tipo de comportamentos.

Não só sofremos o duplo crime de não nos governarmos nem nos deixarmos governar, como também acabamos por sofrer com as consequências das subjugações. E foram algumas.

Conquista sem honra envergonha a todos. Como vergonha que é, temos de esquecer depressa quem contribuiu para ela. Mais uma vez fomos esquecidos e espoliados por aqueles que nos conquistaram com dinheiro lançado a jorros. Alguns não se sentiram humilhados: aproveitam. Mais tarde, distribuem cargos e ocupam lugares de administração.

Tudo isto a propósito, ou despropósito, de um país que não sabe governar-se nem se deixa governar. Talvez os espanhóis nos ensinem. Saberão fazê-lo? Já por cá estiveram e portaram-se muito mal.

Será que entre tanta gente ilustre e ilustrada ainda ninguém percebeu que para endireitar um país só basta tirar a venda da justiça, para que deixe de ser cega, abra os olhos finalmente? Não é preciso ser político, jurista, economista. Basta ter bom senso. É assim tão difícil levar o bom senso às universidades? Ponham lá um iletrado que eles ensinam o bom senso de cátedra.









 
 
 

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