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Mais uma Crise Política

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 12 de mar.
  • 5 min de leitura


Esta crise política trouxe à memória tempos antigos. As situações não são semelhantes, mas há vícios, para mal dos nossos pecados, que são atuais e difíceis de corrigir.


Portugal novamente nas urnas: mudança ou mais do mesmo?
Portugal novamente nas urnas: mudança ou mais do mesmo?


Há dias, em conversa com um jovem trintão, confessou que não sabia em quem votar. Esteve para votar na AD, mas optou pelo IL. A atual crise política deu-lhe a certeza de que tinha feito uma boa opção.

E agora? Vou votar em quem? No PS ou PSD é mais do mesmo; no Chega, é só artistas problemáticos; no PC, são contra as guerras, mas apoiam a intervenção da Rússia; os outros partidos de esquerda ou direita têm contradições internas e pouco claras quanto às grandes linhas de força das políticas nacionais e internacionais. Em quem vou votar? Nos partidos, não sei; para presidente, não tenho dúvidas: Gouveia e Melo se se candidatar. Não está comprometido com os partidos, fez um bom trabalho no Covid e Ramalho Eanes, pelo que dizem, também era militar e foi um bom presidente.

Este é o sentir dos nossos jovens. Precisam de gente séria, decidida, culta, descomprometida. Se os partidos não conseguem ver isso, teremos uma direita radical não tarda nada. Os descrentes da política estão apostados em destruir o sistema atual, sem soluções para o futuro. Vamos todos pagar caro o descontentamento.

Seria bom estarmos mais atentos aos programas e votar em quem cumpre, não em quem promete e desfaz o que foi feito. Corrigir, sim; desfazer, não. Os políticos deviam perceber de uma vez por todas que são políticos, não são técnicos.

O texto que se segue é um apanhado do que escrevi no século passado, na euforia dos milhões que diariamente entravam no país


Hoje, mais que nunca, nada se faz sem ser pago. Até os favores que muitos fazem e deviam ser inocentes, sem contrapartidas. Muitos são feitos contabilisticamente: na base do deve e haver. Num futuro mais ou menos próximo, serão capitalizados: se agora te faço um, no futuro fazes-me cinco.

Quando era mais jovem, um favor era qualquer coisa que se fazia para agradar e ser agradado. Não se esperava retribuição: fazia-se. Pagava-se com um aperto de mão ou com a palavra de honra, cumprindo a tradição antiga. Por vezes com um copo de três.

Nos tempos que ainda vigoram, quanto mais se sobe na escala do sucesso e poder aparentes, mais real e presente é a gestão da carreira, tendo em conta o como lá chego, seja a que preço for. Nesta escalada pelo poder, seja ao nível político ou de empresas amarradas ao poder, deixa-se para trás um conjunto de pessoas com valores e competências capazes de corrigir ou dar a volta à economia pública e privada, por mais difícil que se apresente.

Que é que isto quer dizer? Que se compra o sucesso presente com favores a pagar no futuro à custa do desenvolvimento nacional. São favores sem custos para os que beneficiam deles porque vão recebendo sempre mais enquanto vão delapidando alegremente o país. Se nenhum partido está isento deste desbarato generalizado, houve um que perdeu por completo a vergonha à custa do desbarato dos muitos milhões que entram em Portugal por troca da alienação do aparelho produtivo do país.

É tudo feito à descarada, como se fosse normal. Com isto, nasce uma nova cultura nacional: façam o que fizerem, desde que seja às claras, convenceram-nos de que quem trabalha para a causa pública pode ignorar, por completo, a justiça.

A justiça só é cega para quem rouba um quilo de arroz no supermercado de um administrador que acabou de exercer funções públicas.

Neste tempo de dinheiros a rodos, assistimos ao descalabro do aparelho produtivo nacional. Recebe-se dinheiro para desmantelar tudo o que internamente produzimos; enche-se os bolsos para dar formação, desenvolver e modernizar o país; a começar e acabar com a formação intensiva a mulheres de limpeza. Todas se formam com distinção nos diplomas, sem necessidade de frequentar ações de formação.

Formação para mulheres de limpeza que tiveram a desdita de nascer com a vassoura na mão? Não seria melhor as formandas dar formação à vassourada nos formadores e patrocinadores? Quantos milhares de mulheres de limpeza fazem formação sem saberem que o fazem? Outras classes profissionais fazem formação sem o saberem. Mais uns quantos milhares que frequentam ações de formação que deixam muito a desejar. Todos se qualificaram com diploma passados por professores e mestres de qualidade duvidosa. Até nas novas universidades.

Quantos compadres políticos abriram escolas de formação? Fiquemo-nos por aqui porque, senão, ainda dizem que sou inimigo do progresso.

Não quero dizer que a governação anterior esteja isenta de maldades: lembro-me do traçado das autoestradas que iam mudando ao sabor dos interesses partidários. Mas só a governação atual faz o impensável. Muita coisa boa: louvado seja o senhor; mas tanta coisa mal: o despesismo e o desinvestimento produtivo que o futuro irá pagar com língua de palmo. Já para não falar do amiguismo descontrolado em todas as esferas do poder político e privado. É visível o assalto às lideranças por gente incompetente que se rodeia de mais incompetentes: a incompetência não gosta da competência. Quem sabe se o futuro não nos trará surpresas desagradáveis ministeriáveis? Só para que fique claro para quem esquece: o assalto ao país por gente desconhecida, incompetente e sem cheta foi rápido e eficaz. Senão, vejamos; boa parte do ouro do Banco de Portugal escoou-se milagrosamente pelo caneiro para uma empresa americana falida, a Drexel; os pescadores foram pagos para desmantelar a frota pesqueira, assim como a agricultura: ficamos sem barcos, sem pesca, sem peixe; deixou-se de semear, plantar, arrancou-se a vinha e a floresta mais produtiva: mas temos jipes topo de gama a substituir o arado e a cavalgar as terras desertas; promovemos o eucalipto, uma árvore que sabe matar a fauna e a flora, a árvore nacional; as privatizações intensivas perderam de vista o que é estratégia nacional; a indústria e o transporte ferroviário conheceram os benefícios do desinvestimento; o despesismo estatal acelerou descontroladamente; Herman José foi censurado, Saramago excluído, a comunicação social controlada; a bola de Berlim e o pastel de nata têm de ser servidos com luva, ainda que a luva esteja mais porca que a mão; o que não é desmantelado, paga-se para deixar morrer; por fim, parte do dinheiro flui para criar uma nova classe social de gestores e CEOs competentes nas empresas privadas e acabadas de serem privatizadas. Felizmente que o dinheiro continua a entrar e a modernizar o país. Se nos deixarem trabalhar, faremos tudo em nome de menos estado e melhor estado... Fiquemos por aqui e esperemos pacientemente pelo futuro, desejando que as vacas gordas não sequem as tetas. Já agora, se não for pedir muito, que seja para todos.

 
 
 

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