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Estará o Mundo louco?

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 26 de fev.
  • 4 min de leitura

Nestas últimas semanas os acontecimentos no mundo estão a evoluir de uma forma dramática. O invasor transforma-se em vítima e os atacados são terríveis provocadores. Os exemplos da Ucrânia e Israel interrogam-nos: para onde caminha o mundo e a justiça?


Uma estrada entre a tempestade e a luz, seguindo rumo ao desconhecido.
Uma estrada entre a tempestade e a luz, seguindo rumo ao desconhecido.

Quando era jovem, entre o meu primeiro choro e o último sufoco no dia em que embarquei para Angola, passei por dias felizes e amargos. À procura de uma vida melhor, os meus pais saíram de Guimarães, passaram por Bragança, acolheram-se em Alhandra e acabaram por se fixar em Lisboa. Depois de terem comido, e dado a comer, o pão que o diabo amassou, acabamos no novo bairro dos Olivais, um dos melhores projetos que o salazarismo concebeu e legou. Houve outro: as escolas profissionais que tanta falta fazem. De resto, do salazarismo só me lembro da miséria e do porrete.

Ainda jovem, de fora de Portugal, pouco ou nada sabia. Mas sabia alguma coisa. Tinha um amigo que conhecia outro amigo que por acaso era filho de um funcionário de uma embaixada, ou então o filho de alguém com permissão de viagem para fora do país. Era assim a minha net. Até Abril, em Portugal, e no resto do mundo, era tudo muito estável, muito previsível, com os dias a sucederem-se aos dias sem que nada acontecesse. A nação permanecia imutável: miséria acumulada em cima da miséria. Quem tiver dúvidas que leia Camilo, Eça e mais uns quantos. Ainda que mortos, mostram-nos como os dias de hoje são o espelho de então. Éramos um país de analfabetos. Lembro-me dos livros emprestados, de gerações anteriores, que passavam para as seguintes. Por felicidade, Deus, Pátria e Autoridade enviava alguns jovens para a escola. Eu, apesar de pai analfabeto e mãe com exame da segunda classe, aprendi a ler. Mas o meu pai não era totalmente analfabeto. Gostava de estar a par dos acontecimentos e obrigava-me a ler quando acontecia algo de importante. Ao lado, a minha mãe zelava pela fidelidade da leitura. Os analfabetos ensinaram-me a ler e a escrever. Mas também as mestras escolas que lembro com muita saudade e gratidão.

Nascido e criado num mundo de mudança lenta, fui mudando com ele. Fiz a guerra, passei pelas turbulências de Abril, acompanhei e fiz parte das mudanças tecnológicas, o telemóvel e a net acabaram com as cartas e as chamadas telefónicas, e de repente dei por mim a ser projetado de um mundo pouco mais que medieval para um outro mais moderno, tecnologicamente avançado. Tive a felicidade de viver e acompanhar uma época de transformações. Outras dificilmente as poderão testemunhar e viver. Ainda que na infância, até tenho a felicidade de assistir ao parto da IA. Vivia num mundo de transformações e evolução consistente e natural.

Parecia-me que o mundo caminhava para um futuro de conforto e bem-estar dos seus planetários habitantes. Repentinamente, começou a desmoronar-se com as crises do subprime: atuação irresponsável dos sistemas financeiro e imobiliário devido aos empréstimos de alto risco. Os governos e os sistemas económicos pensavam que o mundo absorvia os desmandos do capital e a economia colapsou à escala planetária. Estávamos a sair de uma crise, quando entramos imediatamente noutra, também à escala planetária. Quem imaginaria ver Paris, Londres ou Nova Iorque com as ruas completamente vazias? Mais uma vez, saía-se de uma crise para entrar noutra, desta vez, para a invasão da Ucrânia, seguida dois anos depois, para outra guerra, a da Palestina. Tanto uma como outra, sem justificações válidas para fazerem o que fazem. Só por gula semelhante à de Hitler.

Aquilo que parecia um direito à defesa, na Ucrânia; e uma punição de terroristas para libertar reféns, no outro, no início deste mês converteu-se numa completa e disparatada inversão de valores: os invadidos transformaram-se em agressores; e os palestinianos, colonizados com mão de ferro por Israel, são autores de todas as desgraças israelitas. Não tenho dúvidas quanto aos atos de terror praticados pelo Hamas. Mas justifica-se a destruição e morte de dezenas de milhares de inocentes por conta de uns quantos terroristas? Saberá Israel que o terror praticado é consequência do terror que infligiu? Israel sabe por que andam os terroristas no Irão e no Líbano, sabe o que fazem as pessoas de Gaza e Cisjordânia, só não sabia quando se iria dar o ataque do Hamas? Que andaram a fazer todos estes meses para não conseguirem libertar os reféns? Será que os queriam libertar?

Nasci e vivi num mundo que evoluía de acordo com o esforço dos homens de boa vontade para melhorar a vida de todos nós. Esse mundo acabou com o subprime e agravou-se ainda mais a partir de janeiro deste ano. Quando um homem faz da força um ato de justiça; transforma o agressor em vítima; faz dos palestinianos beneficiários da Riviera, desde que seja longe de Gaza; transforma o Golfo do México em Golfo da América; quer comprar a Gronelândia; fazer do Canadá mais um estado americano... Não faz nem mais nem menos do que fizeram outros homens em outras guerras de prepotência e poder.

Desta vez, acho que o mundo está a mudar, não no sentido da evolução, mas da loucura e retrocesso. O mais grave, é que estes homens falhos de sapiência livreira e cultura humanista só conhecem a erudição das armas. Nova crise se adivinha, porventura mais grave.








 
 
 

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