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Carpinteiro de Linhas e Palavras com Letras.

  • Foto do escritor: Luis Manuel Silva
    Luis Manuel Silva
  • 20 de fev. de 2024
  • 5 min de leitura

Atualizado: 2 de mar. de 2024

Bem-vindos à oficina de trabalho com palavras e letras, apresentação e divulgação dos livros de autor.



Livros da História da Pérsia
Caixa de madeira em forma de livro


Para quê e como surgiu o "site"?


Sempre que algo ou alguém nasce tem de passar pelo ritual da nomeação. Foi o caso desta página que teve de ultrapassar muitas barreiras para ser criada e batizada.


Fui ao dicionário para saber a origem da palavra carpinteiro. Vem do latim, e embora soubesse o que faziam as mãos do artesão que ameiga a madeira, foi a primeira vez que mergulhei na origem do nome. A palavra terá nascido celta e os romanos modelaram-na em "carpentarium artifex": um artífice que constrói carros de madeira de duas rodas.

Daí para cá, o carpentarium nunca mais deixou de ser um artífice da madeira. Desde o carpinteiro de toscos, que faz trabalhos grosseiros, até ao que a amima, muitos outros foram nascendo entre ambos, cada um com sua especificidade. Todos trabalham a madeira, nobre ou menos nobre — até a madeira se nobilitou —, com os mais diversos instrumentos de corte, encaixe e talha.

Para além dos carros romanos, construíram trirremes, cabanas grosseiras, madeiramentos de palácios e catedrais, pequenos barcos costeiros e caravelas oceânicas, estatuária e mobiliário, utensílios de uso prático para armazenagem ou de trabalho na terra.


Sem querer tirar o mérito a outras profissões nobres, como o ferreiro e o pedreiro, o carpinteiro é, talvez, o artífice que sempre esteve presente nas nossas vidas, desde que o homem deixou de gatinhar, e o que mais contribuiu para aquilo que somos hoje. Começou por nos dar utensílios de uso prático, depois o abrigo, a religiosidade dos templos, o conforto das casas e palácios, a beleza da estatuária e mobiliária. E para fazer tudo isto, precisou de pouca coisa e muita imaginação. A criatividade está presente nos objetos que fizeram com os mais diversos tipos de madeira. Podemos vê-la nos museus e palácios, nos esqueletos náuticos dos fundos oceânicos, nas nossas vidas de todos os dias, e se soubermos ver, até nos locais por onde andamos e entramos.

Para tecer toda esta imaginação, só precisaram de inventar poucos objetos cortantes, perfurantes, esquadros, compassos, réguas e grampos. Nos olhos, aprenderam a colocar o nível de alinhamento. Sem saberem ler nem escrever, inventaram a geometria e a escrita particular e individual. Sem uma e outra, não conseguiam medir e construir estruturas de entalhe e travamento, resistentes aos séculos e à perenidade da madeira. Se recuarmos cinquenta, setenta anos, com um pouco de imaginação, podemos ver nos nossos avós pedreiros, carpinteiros e ferreiros, os mesmos homens que construíram a Arca de Noé e da Aliança, palácios e catedrais, com os mesmos utensílios milenares. Com um pouco mais de imaginação, até podemos ver nestes analfabetos de sempre, os engenheiros que construíram e aperfeiçoaram o mundo que temos. Não se trata da apologia do analfabetismo, porque de analfabetos nada tinham: eram engenheiros formados na maior das academias: a Universidade Universal do Saber de Experiência Feito, como disse o poeta.


A fotografia de apresentação é um dos topos de uma caixa de xadrez que contém no seu interior outras caixas, mais pequenas, para conter as peças do jogo. O trabalho em madeira simula a lombada de dois livros sobrepostos. O topo oposto tem a mesma vista e os laterais, não visíveis, simulam as folhas dos livros.


Processo de reconstrução do jogo
Recuperação de um jogo de xadrez

Algures, no tempo, numa geografia mais exótica, um carpinteiro fez essa obra-prima com incrustações diversas. Um outro encarregou-se de corrigir o que o manuseio e o tempo fizeram ao xadrez.

O processo é visível na fotografia de recuperação do jogo, que se espera, possa resistir mais uns tempos, desta vez sem manuseio.

Na foto, à esquerda, vê-se uma fase do processo de reconstrução e colagem do Xadrez. Se virmos com atenção, descobrimos as folhas dos livros. À direita, está o tampo articulado da caixa recuperada.


O escritor é um carpinteiro que constroi e reconstroi os textos
Relógio de parede ferramentas e acessórios de colagem

Nesta foto, podemos avaliar a intervenção na caixa de um relógio antigo de parede. Sobre a bancada de trabalho, encontram-se materiais de embutidos e colagem. No expositor do fundo, estão visíveis algumas das ferramentas que possibilitam a criação, execução e recuperação de trabalhos em madeira.


Na oficina, um serôdio Carpinteiro de Linhas, Palavras e Letras vai mostrando o que sabe fazer ao longo desta jornada. Tal como ele, pretendo fazer uso dos serrotes e enxós para idealizar a construção de páginas; das garlopas, plainas, graminhos e esquadros para traçar as linhas; dos formões, guilhermes e compassos para dar forma às palavras; do arco de pua para estruturar e fixar a escrita; da infindável panóplia de goivas para lavrar as letras nas palavras que compõem as linhas que delineiam páginas que constroem catedrais. À semelhança do carpinteiro da foto, espero fazer o mesmo trabalho árduo de imaginação e concentração, ser meticuloso na construção e recriação, e com as mãos enluvadas, ter a arte de um carpinteiro de limpos criativo e frutuoso para escolher as letras que fazem palavras.


As linhas, palavras e letras são uma tentativa para mostrar, bem ou menos bem, o que sei fazer. Três dos livros que agora apresento estão intimamente relacionados com vivências de tempos salazaristas e marcelistas. Refletem a realidade da mocidade mobilizada para a guerra de África. Eram tempos de incerteza para os jovens, que só não eram mais penosos, porque tinham as mulheres — nesses tempos, muitos dos jovens casavam antes do serviço militar —, namoradas e madrinhas de guerra que lhes acenavam de longe com a candeia para lhes alumiar o caminho da esperança.


As mães eram a realidade sofrida do país de então. Viúvas vivas de maridos emigrados, não só suportavam as dores dos maridos ausentes, como as dores dos pais e sogros, e com o coração a verter o sangue que lhes restara do parto, tinham de suportar as dores dos filhos no açougue. E muito mais suportavam, como as dores dos filhos que regressavam estropiados da cabeça, muitos com incrustações metálicas na carne, ou sem um bocado dela, deixada em África — e quando deixavam a carne toda, sofriam as dores das jovens viúvas e dos filhos que lhes fizeram antes do embarque. A juntar a tudo isto, tinham de trabalhar nos campos, nas fábricas, onde quer que fosse, para ganhar algum dinheiro para fazer um pouco de sopa com algum presigo.


Um dos livros fala destas realidades do país e dos dilemas dos jovens a partir dos dezassete anos, com a guerra a bater-lhes nos calcanhares.

Um outro fala do impacto sofrido quando chegavam ao cenário de guerra, dos amores e desamores, do futuro ou falta dele.

O terceiro, escrito em forma de verso livre, sem métrica e rima, fala das vivências que foram dois anos de cartas: um viveiro de ilusões e frustrações, sem se saber com o que contar no dia seguinte — ouvi há dias uma ucraniana desabafar que o país estava sem homens, todos fugidos ou na guerra; as casadas viviam sós, cuidavam dos filhos, faziam por gerar alguma riqueza para que o país não colapsasse; contribuíam para suportar a máquina de guerra; iam ficando viúvas porque os maridos e filhos lutavam pela vida e morriam. As solteiras não tinham homens — como vos compreendo e vos vejo tão parecidos com os homens e mulheres de então (voltarei a este tema da guerra, mais tarde)!

O outro, Madalena, é uma relação amorosa descomprometida, acordada entre ambos, nada convencional.


Gostava de ter ambição para construir uma catedral, mas se ficar pelas fundações que a suportam, já me dou por satisfeito.

À semelhança do humilde pedreiro que escassilhava a pedra tosca, saída da pedreira, para construir a catedral, responderei, se me perguntarem: «Estou a construir uma Catedral!»

Fiquemo-nos pelas fundações.

Aos leitores, digníssimos juízes do meu trabalho, peço que se manifestem, com agrado ou desagrado, foi para isso que os dei à luz. Só com a vossa manifestação é que poderei saber se tenho condições para colocar mais uma pedra na fundação.






 
 
 

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