BANHO DE JUVENTUDE EM CABO VERDE.
- Luis Manuel Silva
- 6 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de mai. de 2024

Couros, um dos locais de tratamento de couros, em Guimarães, até finais do século XX. Neste complexo de produção de curtumes, património industrial classificado, em recuperação — ou será reparação? — , funciona mais um pólo universitário da Universidade do Minho.
A Eterna Juventude
Foi em Cabo Verde que se descobriu o elixir para a eterna juventude. Ali, um ínclito filho da nação, descobriu que não é velho nem caquético, nem se baba nem diz inconveniências, muito menos desenterra os esqueletos do Império. É o meu Príncipe Valente, o Luís Euripo, o Fantasma, todos os meus heróis do Mundo de Aventuras, Condor, Falcão, Emílio Salgari... Um sem número de heróis que sonhavam comigo — ou seria eu que sonhava com eles?
Heróis da Reparação
O Super-Homem é mais rápido que um comboio, que um cometa, que a luz. Não corre como um Ferrari: voa, pula, está onde precisam dele. Dotado de uma rara ubiquidade, antes de estar, já está antes da chegada da ambulância, da mangueira do bombeiro, do carro de combate a fogos, do supertanque voador de descarga de água sobre o vórtice de fogo.
O Homem Aranha não tem teias suficientes para acudir às desgraças dos que sofrem, dos desalojados, dos esfomeados dos natais e outros dias que tais.
O avião ou avioneta está a cair?, o fogo está no início?, houve uma derrocada?, os mortos são muitos? O Príncipe Valente está lá para lembrar, lamentar, reparar.
A delinquência cavalga, os guardas fronteiriços reprimem, os polícias não cumprem? Luís Euripo não repara com os punhos: pede humildemente desculpa.
Reparar as Nossas Maldades
O Fantasma dos tempos modernos cavalga o Herói, o Diabo a seu lado, e vai até aos confins da história para selar com a caveira as maldades que os portugueses fizeram aos leoneses e galegos. Desde então, desde que Henrique bateu na mãe, passando pelas maldades que fizemos aos mouros, africanos, asiáticos e americanos das índias — ou será índios americanos? — , o Fantasma carregou o Herói com uma enormidade de reparações para fazer.
Reparar a Bofetada de Henrique
E temos de reparar as bofetadas que o filho deu na mãe Teresa, as espadeiradas que demos nos mouros — os de cá e os de lá —, as levas de escravos para as américas, as especiarias que trouxemos para o Convento dos Jerónimos, os Judeus que queimamos e expulsamos, o ouro da América que construiu o Convento de Mafra, o bacalhau do Lavrador, os castelhanos, franceses e ingleses que expulsamos com as naus e os carros de bois carregados com o património que construímos e trouxemos... todos terão de ser reparados.
Será que não devemos recorrer aos serviços de Dick Tracy para investigar e encontrar os herdeiros dos romanos, visigodos, fenícios, gregos... para fazer as reparações dessa antiga gente?
Em Boa Forma Física
Mandrake mostrou e demonstrou que está em grande forma física e mental. Por milagres de Xanadu, nos Himalaias, sente-se jovem entre os jovens. Velho e caquético de 76 anos, mergulha num banho de juventude para perder 25, adquirir o vigor e forma física do auge dos 50. Que se cuide quem o ache acabado. Ainda tem muito para dar.
A Juventude Reparadora
Sorte a nossa e a dos jovens; sorte, também, a das antigas colónias; ainda tem muitos anos pela frente para fazer reparações. Todos esperamos que se fique pelos banhos de juventude em palestras e que não se lembre, à semelhança da condessa húngara, Erzsébet Báthory, beber ou banhar-se no sangue da juventude de então para ficar eternamente jovem. Será que já começou a bebê-lo?
Quem nos repara?
Já agora, e depois de tantas reparações feitas, será que ainda sobrará algum vigor a Sandokan para tomar banhos de juventude para reparar as faltas de casa, dos ordenados baixos, dos empregos para jovens, das faltas de incentivo para a natalidade, da desertificação acelerada do interior, dos velhários para velhos, dos abrigos para sem abrigos, de criar condições condignas para imigrantes...?
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